Gajas ao Poder

Tuesday, October 31, 2006

Sexo Forte?

Um filho doente. Mas doente mesmo. A fazer quimio.
Uma mãe que dorme no hospital, que está sempre presente, que mantém a boa disposição, que recebe as visitas, que fala com os médicos, que ajuda a vestir, a limpar, a comer.
Um pai que está presente sempre que o deixam, que tem de ir trabalhar todas as manhãs mas deixa o coração no IPO, que vem a correr para estar presente assim que pode entrar no serviço, que vai ficando e falando e ajudando no que pode até ser posto na rua lá pelas 11 da noite. Um pai que mete a chave ao carro, que conduz pela cidade abandonada, que entra numa casa deserta e fria onde só vai dormir. Na casa que ainda há duas semanas era o centro da sua vida, onde construíu a sua fortaleza para proteger os seus - que agora nem estão protegidos nem estão lá.
E eu imagino-o a sentar-se na sala, sozinho, sem nada para fazer, sem ninguém para falar, e sem os truques femininos de ir, por exemplo, arear os tachos porque não podemos descarregar em mais ninguém a neura que nos atinge.
Temos mais defesas. Temos mais truques.
Eles nem sequer acham que lhes fique bem chorar.

Wednesday, October 25, 2006

és um gajo, mas és fofo...

«És um gajo, mas és fofo...»

É um comentário da minha filhota relativamente ao cão, claro.

Por exemplo, nenhum gajo fica pirado da cabeça quando uma gaja lhe ocupa (invade?) o espaço. Já uma gaja...

O Panic chegou com tudo o que de lama havia para trazer da rua. Sangue, óleo de carros, carrapatos nas orelhas. O Jota deu-lhe banho. Ficou limpo e cheiroso... tanto quanto um cão pode ficar cheiroso.

O pior foi a Cusca, a cadela, que está cheia de ciúmes.

Agora imaginem: ela era a rainha da casa. Todo o santo dia deambulava por aí, metia o nariz pelos cantos, escondia ossos e cascas de queijo entre as almofadas do sofá, à falta de um canteiro ou relvado. Tinha os mimos todos, os restos todos, os ossos todos. E as fitas todas, também.

Agora, as atenções dividem-se pelos dois. Mais - ela tem um mau feitio do caraças, e ele é uma simpatia. Ela rosna e desconfia de toda a gente, ele abana a cauda e lambe toda a gente. Agora tem de esperar a ver quantos ossos de costeleta lhe cabem a ela, e vê os seus preciosos saques e esconderijos desvendados pelo puto atrevido. Vida de cão!

Ela gosta de se deitar no sofá, selectamente, ele espoja-se no chão, descuidado, ou persegue-a latindo porque é cachorro e quer brincadeira, a que sua alteza não está disposta. Ela come da gamela, sofregamente, ele arrasta a comida pelo chão, emporcalha tudo e vai brincando com restos de ossos meio roídos... Não há condições!

Resta dizer que ela é preta e branca, tudo muito demarcado, claramente preta e branca. O preto é mesmo preto, e o branco é mesmo branco. Quanto a ele... nem é branco, nem é ruivo, nem é baio, nem é...

Acertaram os dois num ponto: sem raça definida. Ela é meio podenga, a atirar para o terrier mexicano, ele está algures entre um caniche e um pelo de arame.

Mas podem ter a certeza: No fim, quem vai mandar mais será ela.

Sunday, October 15, 2006

gajas ao poder...

quantas vezes não vos apeteceu atirar-lhes qualquer coisa à cabeça?
quantas vezes o único comentário plausível de se fazer era "gajos"?
quantas vezes se depararam e se aperceberam do quanto distamos deles...em tudo?

bem, este blog surge como uma espécie de catarse.
em pontos de vista de duas mentes diferentes, mãe e filha tentam decifrar os enigmas que sempre têm acabado numa simples palavra dita em coro: "gajos"! (bem, se calhar são mais vistas sobre pontos...)

para começar, hoje, chegadas de um curto fim-de-semana no algarve, os meus irmãos receberam-nos com tanto entusiasmo...que mais um bocadito e nem boa noite diziam. mais ça passe. entrámos na cozinha, e a minha mãe perguntou: "o que é que deixaram apodrecer desta vez?" (- não era a primeira vez que os deixávamos sozinhos por um fim-de-semana, e também não era a primeira vez que dávamos com um cheiro aqueles empestado na cozinha...) e deu com um monte de bifinhos de perú, roxo, no fundo do frigorífico. axam bonito? a roupa que ela tinha deixado a lavar na sexta-feira, dentro da máquina, lá ficou, e calhou-me a mim a triste sorte de lá enfiar o nariz....depois de tossir três vezes e de respirar profundamente à janela, olhei para a minha mãe, e, mais uma vez, em uníssono, ouviu-se: "gajos"...

**a filha