Gajas ao Poder

Sunday, March 18, 2007

Ainda palavras (Dona Mécia)

Quando a minha menina estava para nascer, andei no mundo dos nomes para escolher um que fosse apropriado.
Claro que esta história da propriedade das palavras tem muito que se lhe diga, mas essa é definitivamente outra história.
Dizia eu, andei pelo mundo dos nomes e - pensei eu - nada melhor que a poesia para nos ensinar palavras e, portanto, nomes, já que as palavras são os nomes das coisas.
Desencantei um que aprecio sobremaneira, mas para o qual não consegui nem um voto. Cheguei até a ter ameaças de de divórcio, do tipo - «Ela chama-se assim e eu saio de casa» - vá-se lá saber porquê.

Gostava de partilhar algumas das ideias que andaram por aqui a bailar, a ver se as sonoridades não são magníficas. Deve alertar para o facto de que há muitos anos que não vejo este poema escrito, e nem me recordo já quem foi o seu autor. Se o reencontrar, ou se alguém souber, reporei aqui a verdade das coisas. Aqui vai ele então, de memória.
Até pode ser que entusiasme alguém.
(a questão do divórcio ficou adiada sine die, com a frase-banha-da-cobra: «Ok, então escolhe tu»)

Longe, longe, em sonho leve
Vi Dona Mécia Maria.
Vi-lhe uma flor entre os lábios
Ou foi apenas a boca, distante, que me sorria?
Longe, longe, em sonho leve
Vi Dona Mécia formosa.
Vi-a branca, vi-a loira,
Branca e fria como a neve.
Vestia um véu só de renda.
Todo esse véu a cobria.
Longe, longe, em sonho leve
Vi Dona Mécia Maria.
Vestia um véu só de renda.
Logo o véu se foi rasgando.
E alguém perguntou então
Por Dona Mécia, chorando,
E alguém perguntou chorando
Por Dona Mécia Maria:
Se era a sua alma ou o seu corpo
Que a pouco e pouco se abria.
Logo o véu se foi rasgando.
Dentro em pouco mal se via.
Dona Mécia Dona Mécia,
Ai, Dona Mécia Maria!
Não há dor mais verdadeira
Do que a dor da fantasia.
Dona Mécia, Dona Mécia,
Ai, Dona Mécia formosa!
Na minha alma, sob a neve,
Dormem pétalas de rosa.

Informações complementares:
A viúva de JOrge de Sena é Mécia.
A terceira(?) mulher de D. Sancho II era Mécia (ou seria a segunda mulher de D. Sancho I?)
A primeira mulher desta ilustre família Athayde a aportar à Ilha formosa descoberta em dia de S. Miguel era Mécia, nos idos de 1600.
A Tia emprestada da minha infância, que me pôs para todo o sempre as tardes de Agosto a cheirar a cuscurões e a bolinhos de coco era Mécia. Só que escrevia Méssia, porque alguém lhe disse para o fazer assim no exame da 4ª classe, e assim ficou.
Falta nesta lista uma Santa Mécia, mas não conheço nenhuma.